Drone de segurança criado na UFRN chega à terceira geração
Desenvolvida no âmbito do IMD, versão do AEDES traz avanços estruturais e novo sistema de segurança
04-08-2025 / ASCOM

Texto: Felipe Araújo
Um drone inteligente, com alta capacidade de conexão e multifuncional, capaz de realizar patrulhamento, inibir crimes e até ajudar no socorro em situações de emergência. Essa é a proposta do nova Aeronave de Defesa Social (AEDES), veículo aéreo não tripulado desenvolvido no âmbito do Instituto Metrópole Digital (IMD/UFRN), que chega a sua terceira geração com avanços em estrutura, segurança e inteligência artificial. Embora pensado para a segurança pública e vigilância de espaços urbanos, o equipamento já nasce com potencial para também ser aplicado em outras áreas no futuro.
O projeto do AEDEs, coordenado pelo professor Dino Lincoln Figueirôa, do Departamento de Design (DDGN/UFRN), nasceu em uma disciplina do curso de Design da UFRN, em 2017, com o objetivo de prover maior segurança ao campus da UFRN. O seu desenvolvimento atualmente recebe apoio tecnológico do Leading Advanced Technology Center of Excellence (LANCE/IMD) e do Laboratório de Prototipagem (Protolab/IMD).
A atual versão da aeronave tem 1,7 m de envergadura e 1,1 m de comprimento, funcionando como uma “viatura alada”, capaz de fazer rondas de modo semiautomático (voos independentes monitorados a distância) e inibir delitos, como assaltos e furtos. Isso acontece especialmente por meio de sua câmera de rastreamento de alvos (target tracking) e de seus aparatos que emitem luzes e sons, tal qual uma viatura policial.
O AEDES também conta com equipamento projetado para percorrer grandes áreas em pouco tempo, com capacidade de decolagem vertical e voo horizontal, o que permite sua operação mesmo em ambientes urbanos com obstáculos, como postes, prédios e árvores grandes.
Com essas características, a nova versão do drone surge com amplas possibilidades de aplicação, que podem ir além do âmbito universitário. Exemplo disso é a capacidade de reforçar, em diferentes locais da cidade, o policiamento ostensivo comum – quando a simples presença visual e sonora do drone inibe ações criminosas em áreas sensíveis.
Novas funcionalidades
Outra possibilidade de uso é a ajuda no socorro de pessoas em casos de desastres naturais. Isso porque o AEDES pode tanto chegar a áreas de difícil acesso – e captar informações do que ocorre em tais locais – como também transportar pequenas cargas, como kits de sobrevivência, caso necessário. Essa capacidade de transporte faz parte das novas funcionalidades criadas para o AEDES, que é capaz de carregar materiais de até 1,5 kg.
O equipamento também foi pensado para ser levado em viaturas: com estrutura desmontável, ele cabe no porta-malas de um carro comum. A longo prazo, a expectativa é que o AEDES possa ser incorporado às rotinas operacionais de forças de segurança, como Polícia e Corpo de Bombeiros.
Atualmente, o novo modelo é 100% elétrico, com autonomia de até 35 minutos, mas já há versões em estudo com motor a pistão movido a etanol, o que pode elevar a autonomia para até 8h. A velocidade de cruzeiro é de 85 km/h, podendo alcançar até 150 km/h, com raio de operação de 10 km e altitude máxima regulamentar de 145 metros.
Outro avanço importante do projeto é a nova abordagem no controle do drone: antes acionado por aplicativo, semelhante a um sistema de transporte, o AEDES agora deverá operar com rotinas predefinidas e acionamento pelas equipes de segurança da UFRN, com apoio de inteligência artificial, que identificará áreas críticas e traçará rotas mais eficientes.
A terceira versão do drone também inclui um sistema de emergência batizado de SABRI (Sistema Automático Balístico de Redução de Impacto), atualmente em processo de patente, capaz de diminuir impactos ou prejuízos em caso de queda.
LANCE
O projeto do AEDES atualmente recebe apoio do centro de pesquisa LANCE, que congrega diversos laboratórios e grupos de pesquisa especializados em Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), em áreas como Redes de Comunicação Avançada (sem fio e móveis), Inteligência Artificial, Sistemas Distribuídos, Ambientes Inteligentes, Computação Móvel, Computação Aeroespacial, Internet das Coisas, entre outras.
Localizado no Núcleo de Pesquisa e Inovação em TI (nPITI/IMD), o LANCE serve de sede para alunos de graduação e pós-graduação, professores e pesquisadores envolvidos no desenvolvimento do AEDES, sobretudo em questões de conectividade e telecomunicações, além da montagem de peças da aeronave. Entre os participantes estão alunos dos cursos de Engenharia Mecânica, Design e Engenharia Aeroespacial.
A parceria com o LANCE tem permitido otimizar uma série de recursos, realizar intercâmbio de conhecimentos e acelerar o processo de desenvolvimento tecnológico do projeto. “Um exemplo disso é o trabalho com a conectividade do drone, que envolve muito a questão de comando e controle do equipamento. Estar dentro de um lugar onde existe todo um ecossistema tecnológico facilita muito o nosso trabalho”, comenta Figueiroa.
“Nós embarcamos no AEDES tecnologias de comunicação móvel em banda larga. A perspectiva é conectar o drone em 5G para que ele tenha conectividade constante, consistente e com alta largura de banda, para que seja explorado em serviços inovadores”, explica o professor Augusto Neto, diretor do LANCE e docente do Departamento de Informática e Matemática Aplicada (Dimap/UFRN).
Com essa conectividade aprimorada, o drone poderá transmitir em tempo real imagens captadas por suas câmeras para uma base em solo, onde algoritmos serão responsáveis pelo processamento e análise desses dados.
“Dá para utilizar a visão computacional de forma grandiosa, uma vez que a aeronave está conectada a uma rede móvel de banda larga para que o vídeo possa ser enviado com qualidade suficiente e fazer detecções de extremo valor”, detalha o professor.
Augusto Neto também afirma que os possíveis serviços da aeronave não se limitam à segurança pública. “Estamos trabalhando também para aplicar o drone conectado em outras frentes, como saúde, agronegócio e até no monitoramento de fronteiras do país”, diz ele.
Fase de testes
Atualmente o AEDES está em fase de testes, segundo conta o professor Dino Lincoln Figueirôa. Ele diz que os primeiros voos vão começar nos próximos meses, em ambiente controlado, por meio de uma parceria com o centro de treinamento Ironside Academy, em Macaíba.
Uma segunda fase de testes – esta voltada especificamente para voos autônomos – deve ser iniciada a partir de 2026. Assim, a previsão é que o drone esteja pronto para operação completa (voando de forma autônoma, mas sob supervisão), a partir de 2027.
“Nosso objetivo é desenvolver um drone com custo e complexidade de operação reduzidos, mas com desempenho comparável a equipamentos militares”, explica Figueiroa. Enquanto drones militares podem ultrapassar a casa de R$ 1 milhão, o AEDES, em versões de entrada, deverá custar entre R$ 20 mil e R$ 25 mil.